quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Conto cotidiano




Um gesto inesquecível

 Verídico


Mês de Março,
anoitecia a sexta feira e do terraço eu olhava a praia vazia.
Alguns relâmpagos riscavam o céu sobre a montanha em frente e ao sul.  Quando os trovões já estavam bem próximos, a chuva desabou e corri pra sair rápido dali.
Foi quando ouvi um grito agudo na grande árvore do jardim.
Jack, meu cachorro, e eu descemos correndo as escadarias até lá bem a tempo de ver um macaquinho caído entre as grossas raízes da amendoeira.
Segurei-o e era tão pequeno que cabia na minha mão. Uma macaquinha, na certa levara um choque nos fios da rua e agora respirava com dificuldade.
Voltei com Jack saltando e latindo, querendo "participar" do salvamento.

Ficou desacordada muito tempo, enroladinha no meu colo.
Quando abriu seu olhar dourado, oferecí-lhe banana e ela comeu avidamente, então vi que estava salva!
Falei-lhe baixinho que estava tudo bem, que cuidaria dela, etc etc.
Nesta noite dormiu num cestinho ao lado do meu travesseiro.
E assim passaram-se os dias, semanas e ela ainda não conseguia andar direito.
Depois de dois meses,  já estava bem melhor, saltava sobre os móveis e lustres da casa e bem à vontade, servía-se da fruteira e do bebedouro dos gatos. Alias, ignorava aqueles seres curiosos que afastavam-se à sua passagem.

Mesmo estando a casa aberta, ela não saia e ficava horas nas janelas olhando o alto das árvores, como à procura de alguém de seu bando.
Já nos apaixonara-mos por Kakinha de olhar doce e sempre a nos seguir de perto pela casa, sem jamais tocar o chão.
Tocava a tela da tv com os dedinhos e acompanhava o cursor do monitor intrigadíssima ao mesmo tempo que me olhava com interrogação nos belos olhinhos... fizemos muita poesia juntas!
Certa tarde, quando cheguei em casa ela estava no alto da árvore
fazendo aqueles ruídos dos macaquinhos. Ficou ali até a outra manhã comendo pitangas depois, sumiu...
Instalou-se um estranho vazio na casa. A saudade apertou por longo tempo enquanto fui me desfazendo de seus traços. A caminha e tudo o que usou enquanto aqui.

Passou-se mais um mês e meu coração já estava mais calmo quando  próximo ao meu aniversário e outra vez no terraço, ouvi alto e forte seus assobios na amendoeira do jardim.
Cheguei pertinho e ali estava ela com um outro macaquinho, muito tímido, meio escondido ao seu lado!
E ela chiava baixinho e olhava ora pra mim, ora pra ele, como nos apresentando. Sentei no chão do terraço, tão alto como a árvore e fiquei ali, emocionada, conversando com eles até irem-se embora aos saltos gritando pelo arvoredo afora!
Não os vi mais nestes últimos meses. Mas, sem dúvida, esta sua visita, foi meu melhor presente de aniversário!
Ainda penso com carinho nesse seu gesto inesquecível, que levarei no coração para sempre!

ElischaDewes___________


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