quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Crônica


A manicure



Manicures também tem bebês. E a minha, teve.  Deixou às suas clientes a indicação de uma conhecida sua "muito  boa!" 
Telefonei e no dia  e hora marcados chegou a "profissional de arte em unhas".  Assim ela se definiu ao telefone.
Ao abrir a porta me deparei com um sorriso que derreteria toda a lotação do Maracanã: morena, pele cor de canela, com aquele tipo de corpo que Deus dá só a algumas escolhidas... e vestida com uma calça de lycra lilás clarinha e uma blusinha amarrada abaixo do busto.
Logo a imaginei numa propaganda de  cerveja ou biquini fazendo sucesso, não ali, na minha porta, com a sacola de manicure numa mão e... um menino de uns cinco anos na outra.
Entraram, solícita indiquei o local, nos acomodamos e então o pequeno, que me olhava com ar de tédio absoluto, começou:
- Mãaaaaeeee! quero biscoooitooooo! - me olhando com tédio.
A mãe já lixava minhas unhas parecendo não ter ouvido.
- Mãaaaaeeeee! quero biscoitoooooooooo!!!
Me olhando. Eu olhava de um para o outro, sentindo, já,  meus lábios num sorriso de incompreensão e quase... pânico!
Primeiro pensei que ela fosse lhe dar algum biscoito que tivesse levado, depois, que  fosse  surda, e por fim, lá pelo quinto pedido ignorado, disse ao menino que "eu não tinha biscoito, que nem compro pois sou celíaca, tenho intolerância a glúten... se não servia uma fatia de mamão bem docinha?"
- A senhora quer ficar parada pra eu não lhe tirar um bife?- protestou a moça, dando um tranco na minha mão.
- Mamãaaaeeeeee, meu biscoitoooooooo!!!
Minha mão começou a tremer, aliás, eu todinha! imaginei que devia ser assim estar rodeada de terroristas e que deveria, sim,  ficar imóvel. E juro que tentei!
A ladainha do garotinho continuou na mesma proporção em que a mãe o ignorou.
Quando acabou a primeira mão, pedi licença e liguei rápido pra amiga do apartamento ao lado, que me arranjasse uns biscoitos com urgência! Ela tinha! e já ia mandar! ufa!
Recebi o potinho com os biscoitos, depositei com um sorriso na mesa em frente do garotinho que pareceu não ver. Bem estava ali!  sentei feliz com a outra mão estendida .
Ela começou a lixar as unhas com aquele sorriso de dentes perfeitos, muito brancos e ia lhe corresponder, quando meu sorriso morreu a meio caminho ao ouvir:
- Mãaaaaaaeeeeee! não quero biscoitoo, eu quero sorveeeetteeeee!!!


Elischa Dewes





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